18 fevereiro 2007

O estrangeiro

A EPF de Lausana, tal como a sua irmã gémea, a “ Hochschule” de Zurique, não são conhecidas somente pela excelência do ensino e investigação. É possível travar conhecimento e mesmo amizades com pessoas de diferentes nacionalidades e culturas, sendo assim mais uma forma de enriquecimento do espírito de quem por aí passa.
Lembro Fouad, marroquino acabado de chegar de Fez e colega de estudo de pós-graduação na EPF em Lausana, quando começou a ir a minha casa. Quando comecei a conhecer os contornos do islão, a ouvir falar do momento em que aconteceu a grande cisão bíblica, na sua versão... Lembro que, no princípio, pela tardinha e em calhando, perguntava-me se não me importava que ele fizesse a sua oração na minha casa. Claro que não! Lavava as mãos, procurava o ocaso, ajoelhava-se naquela posição curvada e rezava. Uma vez riu-se a bom rir, em plena oração, quando o meu filho pequenito, ao vê-lo naquele propósito, se baixara também e lhe perguntara se estava com dores de barriga. Nessa altura, ele (ainda) só bebia chá. Às vezes íamos a cafés onde não se vendem bebidas alcoólicas, bebíamos chá e esgrimíamos uma partida de xadrez. Até houve um dia em que me convidou a entrar na mesquita, para que eu conhecesse aquele lugar.
Constituiu alguma surpresa para mim, quando ouví um árabe perguntar-me se tinha discos de Bob Dylan e Neil Young. Mas foi também com ele que descobrí a frenética música marroquina e o couscous.

Quando o conhecimento mútuo já era maior, a famosa batalha de Alcácer Quibir veio à conversa.
O tempo foi passando e ele acabou por integrar-se, dando maior dimensão àquele que já era um grupo verdadeiramente multicultural.
Havia no entanto um tema que gerava contraditório e discussão entre nós: Khadaffi – o dos velhos tempos. Não porque ele o visse como porta-estandarte do islão; era sobretudo, porque Khadaffi personificava a afirmação cultural árabe… Só que Khadaffi também era conhecido pelo terror, noutros tempos.

Já não nos vemos há alguns anos, o que poderá vir até a acontecer em breve…De vez em quando tenho uma dúvida: será que Fouad apoia a existência e a acção da Al Qaeda? Ou concordará ele comigo na necessidade de extirpar Bush e Laden, de forma a preservarmos as nossas individualidades?!