30 março 2007

Instante Um


Foi com o instante zero que dei início a esta aventura bloguística. Nessa altura, não sabia se teria disponibilidade para me “manter no ar”, se iria ter gosto pelas linhas que me propunha desatar. Era uma incógnita!
Por outro lado, pelo formato que desenhei para o blogue, dispensei a abertura da caixa de comentários.
Passados dois meses, comecei a pensar que poderia abrir a caixa de comentários… Para permitir a recepção e a publicação de comentários aos conteúdos propostos, quando assim entendido.
E assim, passada a fase experimental, eis chegado este novo instante.

29 março 2007

Qual população?

Em Estatística, a amostra tem que ser um subconjunto da população, de forma que as suas características possam ser extrapoladas para a população, ajustando-as a uma lei de distribuição adequada. E na definição do tamanho da amostra, o condutor/investigador do estudo, deverá previamente ter em conta o grau de confiança que pretende estabelecer.

Depois deste preâmbulo, acho completamente abusivo que se ouça por aí que “ os Portugueses escolheram Salazar como o melhor de sempre…”. De facto, nem ocorreu qualquer sondagem, nem houve qualquer amostragem aleatória, nem mesmo se pode falar dos erros ou da sua teoria.
Esta “ vitória “ tem a mesma significância que aquela do Zé dos Anzóis de qualquer Big Brother, em que familiares, amigos e simpatizantes escolhem o seu favorito por chamada telefónica associada a um custo. Alguns não telefonam uma vez, telefonam várias ou muitas vezes. A significância desta vitória é igual à daquele grupo de dezenas de pessoas que se deslocaram a Santa Comba Dão, manifestando-se pró-museu Salazar. Ou seja, nem mesmo se pode falar de representatividade...

Que sondagem ou amostragem seria esta, onde não é contemplada a possibilidade da abstenção do não sabe/não responde?
Neste país de sociólogos, e nestas circunstâncias, eu recuso-me sequer a esboçar qualquer tentativa de análise ou de interpretação de resultados sobre o acontecimento “ os Portugueses escolheram Salazar “!
À margem do fenómeno, fica uma dúvida: será só a estupidez da iliteracia ou haverá por aí alguém com vontade de reescrever a História?

27 março 2007

Cuidado com o caimão!

Pode parecer pedantismo, mas não é …( aliás, vejo as notícias ou um jogo quando a bola me interessa, dou uma espreitadela no Mezzo, faço zapping para a Odisseia, entre outros).
Mas voltando à vaca fria: nem uma única vez aconteceu, ter dado uma olhadela ao tal programa/concurso para eleição do “ melhor português de todos os tempos ”!
Será que me estou a afastar vertiginosamente da realidade do meu Portugalzito?

Este termo – Portugalzito - ocorreu-me em associação, ao ver uma cena de “ Caimão”, o último filme de Nanni Moretti.
Na tal cena, uma personagem, o produtor cinematográfico polaco Sturovsky, goza com o seu interlocutor, o produtor/realizador Bruno Bonano, ao falar-lhe jocosamente da sua surpreendente Italiazita. Dizia-lhe o polaco, em bom italiano: quando se pensa que ela já bateu no fundo, o pior ainda está para vir…

Pelo que transparece do filme, o poder viciante da televisão da era Berlusconi, onde não faltam shows com as habituées coristas louras, redondas e torneadas segundo convencionais padrões estéticos, ia desbravando, abrindo alas para a sua futura governança populista e corrupta.
Nesta Bella Italia mostrada por Moretti, enquanto uma esquerda tristonha se ia perdendo na postura maçadora do politicamente correcto, o italiano vero era seduzido de forma embrutecida por esse tal mundo virtual…
Mas que réptil!

26 março 2007

Festejos

A abrir os festejos assistir-se-á à Farsa Eleitoral.
Diante dos eleitores, com máscaras e orelhas de burro, os candidatos burgueses, vestidos de palhaços, dançarão a dança das liberdades políticas, limpando a cara e a testa com os seus programas eleitorais de múltiplas promessas, e discursando com lágrimas nos olhos sobre as misérias do povo e com voz metálica sobre as glórias da França; após o que todos eleitores bradarão solidamente e em coro: hi ho! hi ho!

Paul Lagargue- “ O Direito à Preguiça “ - 1883

23 março 2007

Espaço verde


Enquanto neste espaço verde se fazem comunicados contestando alegados atrasos nas transferências de verbas para as juntas de freguesia, alheado de polémicas continua o munícipe.
O que é dado a observar em várias zonas da cidade, é a incúria e o deixa andar naquilo que deveria constituir a prestação dos serviços camarários básicos.
Na fotografia do pseudo espaço verde que é aqui ilustrado, observa-se que foram feitas a limpeza e a deservagem do local, seguidas de depósito do lixo no centro da área, não sendo sequer pensado que o mesmo deverá ser evacuado para local ou vazadouro apropriado.

Afinal, para quê tanto corpo técnico, tantos assessores, tantas empresas municipais ao serviço da CML se a sua competência deixa tanto a desejar?
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PS: faço votos para que o meu comentário no tal espaço verde não seja censurado!
PS2:Afinal, nada mais óbvio: o meu singelo comentário foi censurado pelo tal blogue de propaganda pessoal, um apêndice da CML! E também não ví qualquer resposta que tivesse aterrado na Inbox do meu correio electrónico.

22 março 2007

Emoções sociais


Estou a pensar nas reacções que levam a preconceitos raciais e culturais e que se baseiam em emoções sociais cujo valor evolucionário residia no detectar de diferenças em outros indivíduos - porque essas diferenças eram indicadoras de perigos possíveis - e no promover de agressão e retraimento. Este tipo de reacções deverá ter produzido resultados extremamente úteis numa sociedade tribal, mas não é nem útil nem aceitável numa sociedade actual.



António Damásio – “ Ao Encontro de Espinosa”

21 março 2007

Equinócio


E acontece o Equinócio da Primavera, com a duração da noite igual à duração do dia, das marés vivas, da erosão na costa...



" Falésia na costa do Meco "

20 março 2007

A cidade das pessoas

Com tantas viagens por esse mundo fora no passado, e também, pelos movimentos migratórios mais recentes, é natural que esta terra já tenha um cheirinho a melting pot de culturas.
Por vezes ouço histórias que envolvem pessoas de diferentes nacionalidades, de Cabo Verde a Moçambique, da Índia ao Leste, que se misturam e convivem, ou pelo trabalho ou pela sua vida social.
S., que trabalha numa IPSS, conta-me que após as férias, é frequente receber presentes daquelas pessoas que revisitam os seus países de origem. Presentes feitos de coisas simples, como o de uma peça de artesanato ou o de um pacotinho de caju torrado, uma recordação das suas terras.
Há dias, S. dizia-me: amanhã vou almoçar uma cachupa, feita por uma trabalhadora originária de Cabo Verde, para a qual está convidada toda a equipe do nosso local de trabalho. Para completar o convívio, não faltará também quem traga sobremesas e outras iguarias, adiantou ela.
Mas quando eu lhe perguntei, dias mais tarde, “ então, como foi a cachupa? “ , S. sorriu e disse-me que tudo não tinha passado de uma partida, ao jeito do Carnaval…A cachupa simplesmente não aparecera para saciar o apetite dos convivas presentes, ao contrário das sobremesas e iguarias que não faltaram!
No entanto, a brincalhona autora da partida, não quis deixar os seus créditos por mãos alheias. E para não defraudar ninguém para lá do espanto geral, encontrou uma solução na hora: dirigiu-se a um take away, comprou refeições e voltou para o local de trabalho onde finalmente se desenrolou a comezaina.
No meio do repasto improvisado e em plena cavaqueira, a autora da partida deixou no entanto uma promessa: logo que possa, vou mesmo fazer a cachupa!

19 março 2007

Ser

Um dos valores que mais estimo e preservo é a liberdade. Mesmo no relacionamento privado, com o outro, tenho que me sentir livre. Aquele que dá mostras de ser familiarmente invasivo, possessivo, de fácil pancadinha nas costas, terá pouca probabilidade para a passagem para outro nível de relacionamento, quedando-se esse pelo mais elementar.
Talvez por ser essa a informação inscrita no meu código genético, continuo a olhar com repugnância tudo o que mostra contornos de frete, de caciquismo, de beijar a mão, de pôr-se a jeito
.

15 março 2007

Do esplendor

O anão, sempre de gravata, irrepreensível, de pele cor de celofane amarrotado, chegava a seguir ao almoço caminhando como um boneco de corda nos sapatinhos de verniz, de boquilha na boca, a esfregar uma na outra as mãos minúsculas, colocadas na extremidade de braços que mal lhe roçavam as narinas, e instalava-se numa cadeira, a balouçar as pernas, diante do tabuleiro de cartão.
Ganhava a vida como porteiro num restaurante de Alfama…


António Lobo Antunes – “ explicação dos pássaros “

14 março 2007

Sexo, mentiras e farsa

Há dias encontrei por acaso a doutora MR, naquele almoço rápido e típico do come-em-pé, que diga-se de passagem, não é o lugar mais agradável para encetar qualquer conversa.
A doutora MR - estamos em Portugal – é uma jurista de uma instituição de que o marido já foi vice-presidente, ainda numa altura em que havia alguma decência no preenchimento de lugares de responsabilidade. O marido já é reformado, ela para lá vai caminhando, é o que me disse. Talvez por estar em plena fase final da sua vida activa, conversou comigo de forma aberta, em jeito de balanço. A simpática senhora falou de um presente nada abonatório, onde a politiquice e o caciquismo são os valores que fazem a lei…Dizia ela: “ Há hoje pessoas ( broncos) que têm posições de direcção, que não sabem alinhavar um parecer ou desenvolver uma ideia numa folha de papel A4” . E interrogava-se ela: “ Como é que a avaliação de desempenho na horizontal (!), duma colega minha, foi determinante para lhe valer a excelência e a progressão na vertical? “
Ora, a mim, o que me tocou, foi de ouvir tais considerações, vindas de uma pessoa que tenho como idónea, que não é esquerdista ou sindicalista, comunista ou bloquista, rótulos que hoje são imediatamente colados a alguém que faz um comentário parecido, que possam constituir um grão para a engrenagem montada neste meio gelatinoso.

De facto, a cara MR tem toda a razão. O sexo tem o seu espaço próprio, até tem mesmo um mercado de trabalho…Sabemos da importância da libido, e não só pelos estudos de Freud, de como o sexo é determinante para a saúde pública.
Porém, misturar sexo com trabalho, sexo com progressão, é gozar com o pagode!

Bebi o meu cafezito, comí o pastel de nata, despedi-me e saí. À medida que ia andando, pensava para os meus botões: há gestores que nem sabem o que isso é, mas mesmo que soubessem, nunca precisariam de utilizar a programação linear.

12 março 2007

Boa Viagem


A Primavera deu sinais de querer penetrar por entre as copas das árvores frondosas que subsistem na Serra da Boa Viagem, daquelas que têm vindo a resistir a fogos e à avidez de gente pouco escrupulosa enquanto os olhares permanecerem permissivos.

10 março 2007

Terra Incógnita


Nas suas fotografias a preto e branco encontra-se sempre um tom brando. Ele nunca foi importuno, nas suas imagens vê-se que as pessoas que ele retrata têm confiança nele “, escreve Henning Mankell, bem e de forma verdadeira, a propósito do Sérgio Santimano, num dos textos incluídos no belíssimo livro Terra Incógnita.
Um livro de fotografias da vida e gentes da região do Lago Niassa, Moçambique, realizado pelo amigo Sérgio, com o qual tive o privilégio de ser presenteado antes do seu regresso à Suécia.

Para quando a distribuição desta magnífica edição escrita em português e inglês, em Portugal?

09 março 2007

Azar

J. era um bem sucedido vendedor de tapetes de Arraiolos. Tinha uma loja no Chiado, vendendo os tapetes para Portugal e para o estrangeiro. Dormia descansado…Pensava ele que, caso o negócio conhecesse piores dias, poderia interromper a licença sem vencimento de que dispunha, e voltar a ser funcionário público. Ou porque o negócio começou a fraquejar, ou por outra razão qualquer, J. abandonou a sua actividade empresarial, retornando ao instituto onde esteve desde sempre vinculado.
O presidente desse instituto, um amigo de longa data, recebeu J. de braços abertos. Pudera, há anos que J. tinha alugado ao tal presidente, um pai de família numerosa de sete filhos que por sinal era contra os métodos contraceptivos, uma casa na capital. Por valor irrisoriamente baixo, verdadeiramente de amigo.
Apesar de estar completamente a leste das novas actividades, que nada tinham a ver com tapetes de Arraiolos, o presidente daquele eminente instituto guindou imediatamente J. para uma posição de chefia destacada, imediatamente abaixo dele. Uma troca de favores, afinal.
Começava então a nova ascensão de J.! A mulher dele é também colocada em posição de chefia intermédia, o filho é colocado numa empresa que J. passa a tratar com deferência, novos negócios vão surgindo com empresas “amigas”.
Quando ocorrem mudanças de governo, J. sobrevive sempre, aliás, como acontece com outros colegas do seu centrão.
Até ao dia onde aparece uma vaga de reformas, um ténue passo, uma tentativa de regenerar uma podre administração pública.

E já nada é como antigamente: o instituto está em míngua, as chefias são em menor número, insuficientes para todas as “bolhas” do centrão…Agora, é mesmo só para quem tiver cartão do partido do poder!
E J., não tendo um cartão da cor da moda, nem sendo conterrâneo ou familiar do Big, acabou por saltar! Ou melhor, voar no seu tapete de Arraiolos, para poiso incerto. Teve azar!

PS: Este governo teria, nos dias de hoje, uma oportunidade única para acabar de vez com a mediocridade decorrente do “oportunismo do cartão”. Porque não o está a fazer?

07 março 2007

Urbe


Gosto desta “ Urb”!
Prédios em plena acção de resistência a ondas telúricas. Ou o caos metropolitano. Ou a modernidade. Ou a geometria variável da urbe- aqui mais física.


“ Urb” : pintura – José Dias

06 março 2007

Plastic surrealistic world

Cercado por opas, manifestações e corrupções; saturado pelas gordas que saltam das bancas de revistas e jornais; em pleno curto-circuito com a tal caixinha mágica que vomita Prós e Prós de Fátimas, estados das artes de Portas, entrevistas encomendadas a Judites, conversetas sem surpresa na já de si mais que improvável quadratura do círculo dos sempiternos comentadores de serviço…tudo me acicata vontades de partir!
Mesmo no nono andar onde passo algumas horas do dia, o tal clique que nos pode absorver e motivar, parece não querer dar sinais.
À medida que a sensação do efémero se vai definitivamente instalando, os contornos do teatro social onde decorre esta peça trágico-cómica, vão-se tornando mais nítidos.
Se ao menos este pedaço de rectângulo se desagregasse, cumprindo o desígnio da jangada de pedra, à deriva pelo mar à procura do sol e das palmeiras…

02 março 2007

Uma outra cadeira


Hoje não "ofereço" a cadeira do poder…
A cadeira é outra, é de Vincent Van Gogh!
Um dos traços que é possível descobrir na sua trajectória de artista, é a crescente presença da luz na sua pintura. Isto foi acontecendo à medida que a sua Holanda natal ia ficando cada vez mais para trás, rumo ao sul mediterrânico, a Arles.
Como mudara a sua pintura desde o sombrio “Potato Eaters”…

“The Chair and the Pipe” - 1889

01 março 2007

A cadeira do poder


A crise na CML parece ter entrado na espuma dos dias. O seu inefável presidente sorri novamente, a oposição já não fala em eleições intercalares…

E agora, mãos à obra, que a “Operação Limpeza” vai começar. E o momento, sendo de cosmética, há que convocar os media. Mostrar aos munícipes menos esclarecidos que as taxas e impostos que pagam, são bem aplicados. Ooops! É grande o Amor pela Cidade, o compromisso, a dedicação à causa pública, em suma. Ooops!
E eis que Carmona Rodrigues volta a arregaçar as mangas, voltando ao seu slogan de campanha:
- Vamos a isto.
A publicidade ilegal nas paredes, um gravíssimo(!) problema que tem vindo a retirar qualidade de vida à cidade e aos munícipes, parece ter assim os dias contados. O senhor Carmona é realmente um homem às direitas: não pactua, de todo, com ilegalidades!



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