10 fevereiro 2007

Alvor

- Está?
- Sim, sou o Ben.
- Aonde estás? – perguntei eu, no meio da chamada inesperada.
- Estou de férias, em Alvor, cá em Portugal…

Conheci Ben quando ele ainda era um jovem médico, em missão de cooperação num país a sul do Trópico de Capricórnio. Acabada essa missão, ele passou a exercer medicina do trabalho no seu país, algures na Europa mais a norte. Foi desde que travámos conhecimento que começou a estabelecer-se uma amizade que perdura até aos dias hoje, apesar da distância. Depois daquele telefonema, a possibilidade de nos encontrarmos em Portugal, onde ele passaria uns dias de férias, era uma boa oportunidade para pormos a conversa em dia. E assim aconteceu.
Marcámos encontro. No dia previsto encontrámo-nos então numa esplanada à beira-mar. Ben apareceu na companhia de S., mulher que ele dizia amar e com quem vivia há vários anos. Eu estava acompanhado por E., minha companheira, ela que também já conhecia Ben. Lembro-me que S. trazia consigo um livro da Anaïs Nin. A primeira impressão que tive dela, foi a de uma mulher alta, atraente e descontraída. Depois das apresentações, sentámo-nos, conversámos, bebemos cerveja, rimos de peripécias que tínhamos vivido em tempos. Mais para a tardinha, o calor tórrido que se fazia sentir com o mar ali por perto, tocava campainhas, dando sinal ao corpo que era chegada a hora de mergulho refrescante.
Refrescámo-nos. Viemos até à areia. A boa disposição era evidente no rosto de cada um destes veraneantes. Sentámo-nos os quatro na areia, apreciando o momento.
Com o seu jeito peculiar, comunicante, e naquela forma aberta em que a amizade se constrói, Ben vira-se para mim e diz:
- Sabes qual é a profissão de S.?
- Pensei que era enfermeira…- disse eu.
- Não, não é…
-….?
- É prostituta.
- Sim?! Como se conheceram? – perguntei eu, surpreendido.
- Através do trabalho…
- No teu trabalho?
- Não, no trabalho dela…
Rimos espontaneamente. Afinal, o epílogo do diálogo suplantara a surpresa da novidade...