15 março 2007

Do esplendor

O anão, sempre de gravata, irrepreensível, de pele cor de celofane amarrotado, chegava a seguir ao almoço caminhando como um boneco de corda nos sapatinhos de verniz, de boquilha na boca, a esfregar uma na outra as mãos minúsculas, colocadas na extremidade de braços que mal lhe roçavam as narinas, e instalava-se numa cadeira, a balouçar as pernas, diante do tabuleiro de cartão.
Ganhava a vida como porteiro num restaurante de Alfama…


António Lobo Antunes – “ explicação dos pássaros “