01 abril 2007

Verdes anos


Voei cedo do ninho, muito novinho, experimentando essa bela sensação de nos sentirmos donos do nosso destino. O primeiro trabalho contribuiu para essa mudança, uma outra terra surgia na estrada. Casa partilhada com dois amigos, foi a solução mais prática. Além de mais, era um espaço de convívio. Música, leitura, conversa, visitas, festas…
Nessa terra estabeleci amizade com a C., que na altura vivia em concubinato com um amigo. A mãe de C. era a Irene, uma mulher divorciada, que tinha quase o dobro da idade da filha. Por sinal, C. era apenas alguns meses mais nova que eu.
Irene, vestia-se como nós, ouvia também Bowie e Lou Reed, vivia quase nesses nossos verdes anos. Quase…pois às vezes, mesmo sem querer, soltava o seu lado maternal. Talvez por isso, os seus jovens amigos reagiam, por vezes de forma jocosa, irreverente.
Irene partilhava a sua casa com Y., uma morena insinuante, afectuosa, cuja presença poderia fazer supor ser sua filha. Uma agradável companhia para Irene. A casa, uma moradia térrea com um pequeno jardim, era um espaço aprazível.
Eu era um dos amigos que também frequentava a casa de Irene, havia momentos. Apesar da retórica irónica, de contornos niilistas, que era imagem do grupo em permanente contraste com aquela da cool Irene, acabávamos sempre por passar naquele oásis – a casa de Irene. Irene, tratava-nos bem, convidava-nos para jantar, era amiga; Y. dava-nos mimos, sentada na perna deste ou daquele, deixando-se ficar por aí.
Tendo como fonte esse tal grupo de amigos da casa, sucediam-se ao longo do tempo as paixões periódicas de Irene. Primeiro era um, depois outro, mais tarde um outro…Irene apaixonava-se sentidamente, perante a indiferença dos seus amigos que podiam ser seus filhos. Por vezes, no meio de uma festa mais bebida, lá continuava na cama a sua paixão do momento.
Uma noite, já cansado da dança, da festa e da bebida, acabei por aterrar numa cama dum dos quartos daquela casa. Até que fui acordando lentamente, à medida que ia sentindo uns dedos que corriam o fecho das minhas jeans. Era Irene…